Causes of death in nursery pigs in the State of Santa Catarina – Brazil: preliminary data
Jean Carlo Olivo Menegatt*1, Fernanda Felicetti Perosa1, Anderson Hentz Gris1, Manoela Marchezan Piva1, Diego Luiz Bordignon2, Guilherme Athos Biombo2, Elaer de Matos2, Carolina Reck3, Álvaro Menin4, David Driemeier1
1Setor de Patologia Veterinária, Faculdade de Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – BR; 2Nutron, Cargill, Chapecó, Santa Catarina – BR; 3Departamento de pesquisa e inovação, VERTÁ Laboratórios, Curitibanos, SC – BR; 4Departamento Biociências e Saúde Única – Universidade Federal de Santa Catarina, Curitibanos, SC – BR *Autor para correspondência: menegattjean2@gmail.com
Introdução
Durante a fase de creche, os suínos são muito susceptíveis a infecções bacterianas e virais por diversos fatores, como mistura de lotes, exposição a novos agentes infecciosos, modificação da dieta, além de novo ambiente (Kummer et al., 2009; Hopkins et al., 2018). São limitados os estudos quanto à mortalidade em leitões de creche, sendo a maioria deles retrospectivos ou focados em fatores de risco (Maes et al., 2004; Serrano et al., 2014; Gebhardt et al., 2020). O objetivo deste trabalho é apresentar os dados parciais sobre o estudo das causas de morte em leitões de sistemas comerciais de creche no estado de Santa Catarina, Sul do Brasil.
Material e métodos
Um total de 18 crechários foram visitados durante o ano de 2022 no estado de Santa Catarina. As visitas ocorreram por um período de cinco dias em cada crechário para acompanhamento das mortalidades. Todos os suínos que morreram nos sistemas neste período de visita foram necropsiados e colhido fragmentos de órgãos para exame histopatológico. Fragmentos de órgãos, suabes e/ou exsudatos obtidos de lesões também foram coletados e submetidos para análise bacteriológica dentro de 24 horas. As colônias foram caracterizadas fenobioquimicamente (Quinn et al., 2011). Imuno histoquímica (IHQ) e Reação da Cadeia da Polimerase (PCR) foram aplicadas, quando necessárias, para complementação diagnóstica.
Resultados e discussão
Ao total, 14 grupos de diagnóstico foram estabelecidos, e os com maior frequência estão discriminados na Tabela 1. Das 18 unidades de creche analisadas neste estudo, 557 necropsias foram realizadas, sendo possível alcançar diagnóstico conclusivo em 93,4% (520/557). Resultados inconclusivos contabilizaram em 6,6% (37/557) dos casos. A maioria dos casos de mortalidade concentrou-se entre 41-50 dias de vida. Enfermidades infecciosas representaram a maioria absoluta dos diagnósticos conclusivos, com 87,3% de frequência (454/520), enquanto as doenças não infecciosas foram responsáveis por 12,7% (66/520). A maior frequência de causas infecciosas é esperada na mortalidade de suínos, sobretudo na creche em decorrência da mistura de lotes, colonização e interação com novas cepas e agentes infecciosos, além da queda da imunidade materna protetora (Kummer et al., 2009).
A principal causa de morte foi relacionada à infecção por Streptococcus suis, agente etiológico da estreptococose, doença infecto-contagiosa sistêmica, que causa lesões em múltiplos órgãos (Zimmerman et al., 2019). Surtos da doença vêm ocorrendo no mundo (Goyette-Desjardins et al., 2014; Segura et al., 2020), principalmente associado ao sorotipo 9 (Hammerschmitt et al., 2022).
As polisserosites bacterianas, tiveram isolamento de Glaesserella parasuis (doença de Glässer – DG). A DG é uma enfermidade de carácter agudo e sistêmico grave, que ocorre principalmente a partir da segunda semana de alojamento na creche (entre 35-50 dias de vida) (Barcellos & Guedes, 2022). Adicionalmente, observa-se uma maior ocorrência de casos de DG quando há infecções concomitantes por agentes primários, como o vírus da influenza suína (SIV) (Zimmerman et al., 2019), observado em 79.5% dos casos de polisserosite de nossa pesquisa.
Pneumonias bacterianas corresponderam a 56.3% dos diagnósticos (27/48), onde 74,1% (20/27) dos casos havia lesões de pneumonia por SIV concomitante. As pneumonias virais totalizaram 43.7% (21/48) dos casos, todas com lesão morfológica compatível com infecção por SIV. O SIV tipo A
é um agente difundido nos rebanhos brasileiros e um importante facilitador de doenças bacterianas pulmonares secundárias (Rech et a., 2018).
Outro grupo de representatividade neste trabalho foram as enterites atróficas. A atrofia de vilosidades intestinais é uma condição patológica comum que resulta na má absorção de nutrientes pelos enterócitos, o que leva a redução de peso, caquexia, desidratação, diarreia e, em casos mais graves, morte (Maxie, 2016). Colibacilose e salmonelose também foram diagnósticos frequentes. A colibacilose ocorre na creche em leitões até a terceira semana após o desmame, sobretudo, associadas a infecções por Escherichia coli entererotoxigênica (Barcellos & Guedes, 2022). A salmonelose ocorreu em suínos a partir da segunda semana de alojamento da creche e foi diagnosticada até o fim da fase. A maioria dos casos foram agudos ou subagudos, mas casos crônicos também foram notados, assim como relatado em outros estudos (Piva et al., 2020).
Conclusões
As doenças de origem infecciosa foram responsáveis pela maior parte das causas de morte neste trabalho, com destaque para às infecções por Streptococcus suis e polisserosites por G. parasuis. A maior frequência das mortalidades ocorreu entre 41-50 dias de vida dos suínos. Uma grande variedade de condições foram diagnosticas, a maioria facilmente confirmadas através de análise de necropsia, histopatologia e isolamento bacteriano das lesões.
Referências
Barcellos, D.; Guedes, R. Doenças dos Suínos. 3 ed. Porto Alegre: Copyright; 2022.1060p.
Gebhardt, J.T. et al. Postweaning mortality in commercial swine production II: review of infectious contributing factors. Translational Animal Science, v. 4, n. 2, p. 485-506, 2020.
Goyette-Desjardins, G. et al. Streptococcus suis, an important pig pathogen and emerging zoonotic agent – An update on the worldwide distribution based on serotyping and sequence typing. Emerging Microbes & Infections, v. 3, p. 1-20, 2014. Hammerschmitt, M.E. et al. Clinical and pathological aspects of an outbreak of Streptococcus suis serotype 9 infection in pigs. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 42, 2022.
Hopkins, D. et al. Factors contributing to mortality during a Streptoccocus suis outbreak in nursery pigs. Canadian Veterinary Journal, v. 59, p. 623-630, 2018.
Kummer, et al. Fatores que influenciam o desempenho dos leitões na fase de creche. Acta Scientiae Veterinariae, v. 37, n. 1, p.195-209, 2009.
Maes, D.G. et al. Risk Factors for mortality in grow-finishing pigs in Belgium. Journal of Veterinay Medicine, v. 51, p. 321–326, 2004.
Maxie, M.G. Jubb, Kennedy & Palmer’s Pathology of Domestic Animals. Vol. 3, 6 ed, Elsevier: St. Louis. 1219p. Piva et al. Causes of death in growing-finishing pigs in two technified farms in southern Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 40, n. 10, p. 758-775, 2020.
Quinn, P.J. et al. Veterinary Microbiology and Microbial Disease. 2ed. Willey-Blackwell. 2011. 908p. Rech, R.R. et al. Porcine respiratory disease complex after the introduction of H1N1/2009 influenza virus in Brazil. Zoonoses Public Health, v. 65, p. 155–161, 2018.
Segura, M. et al. Update on Streptococcus suis Research and Prevention in the Era of Antimicrobial Restriction: 4th International Workshop on S. suis. Pathogens, v. 9, n. 5, p. 374, 2020.
Serrano, E. et al. The use of null models and partial least squares approach path modelling (PLS-PM) for investigating risk factors influencing post-weaning mortality in indoor pig farms. Epidemiology and Infection, v. 142, p. 530–539, 2014. Zimmerman, J.J. et al. Diseases of Swine. 11th ed. Iowa: Blackwell Publishing, 2019.1132p.
Tabela 1: Principais causas de morte diagnosticadas em suínos de creche provenientes de 18 crechários no estado de Santa Catarina.